domingo, 6 de abril de 2014

Como Nasceu Miracema


Corria o ano de 1842 e com ele a vida na fazenda mutuca, situada nas proximidades do arraial de remédios, no município de Barbacena,  em Minas Gerais, fazenda essa pertencente a dona Ermelinda Rodrigues Pereira, a qual tinha entre outros o filho de nome Antonio moço pouco afeito ao trabalho, perambulava pelas redondezas em seu pangaré e por ser da fazenda Mutuca tornou-se desde cedo conhecido por Antonio Mutuca, sobre nome que arrastou por toda sua vida, como veremos no correr desta narrativa.
Antonio Mutuca, como dito normalmente rodava pelas vizinhanças em seu forte e paciente cavalo. Certa tarde dirigiu-se  ao arraial  de Remédios em visitas a um amigo seu comerciante. A noite e instalado pelo amigo, Mutuca resolveu ali pernoitar mais tarde, ao fechar a venda o comerciante, sempre na presença do amigo retirou da gaveta do balcão uma importância  que contou na presença de Mutuca, ocultando-a  em seguida por trás de uma das peças da fazenda. Solto o cavalo  de Mutuca, no quintal da casa, recolheu-se  este no quarto que lhe havia sido destinado. Alta noite, vendo que todos dormiam, Antonio foi ao cômodo da venda apanhou  o dinheiro  que vira o amigo guardar e , sutilmente, foi ao quintal, preparou o cavalo e saiu rumo ao sertão que, pelas notícias, o atraia, sem deixar para o amigo e para o amigo e para sua família qualquer indício do rumo  que havia tomado deixando todos estupefatos com aquele fato tão fora daqueles meios e daqueles tempos.
Ao raiar o dia Antonio, já  muito longe de Remédios, contou o dinheiro e viu que eram quatro contos de réis ( R$ 4.000$000), uma grande fortuna para aquela época  guardou o dinheiro.Guardou o dinheiro com máximo  cuidado, enrolado em um grande lenço e este preso ao seu corpo, na cintura. Descansou aquele dia numa choupana de sertanejos, alimentou- se bem  como a seu cavalo, prosseguindo no dia seguinte sua marcha sertão a dentro,  sem pensar que não muito longe lhe aguardava uma surpresa desagradável.
Mais dois dias de viagem, tendo atingido Santa Luzia de Sabará, ali encontrou os revoltosos de 1842, acampados esperando ordens para rumarem para a Mantiqueira, onde deviam encontrar com forças  de Caxias. E eles precisavam de mais homens, dai intimarem Mutuca para a lhe fazer-lhes companhia . Este, porém, num relance percebendo o risco que corria, fez- se de bobo, retardado mental, dizendo proceder de um ponto muito diferente do que  realmente viera e com seu tipo característico de matuto desempenhou tão bem o papel que nem ao menos lhe revistaram, escapando, por isso, do sangue que seria inevitável se eles descobrissem que Mutuca tinha aquele dinheirão todo.
Com sua  quase inutilidade, mutuca não deu maiores cuidados ao revoltosos e com isso noutra noite, fugiu do acampamento mudando completamente o rumo anterior e de caminhada em caminhada veio parar em Leopoldina, onde teve logo notícias  aguçou-lhe  o espírito aventureiro e ele municiando-se de espingarda e munições dirigiu-se para estas bandas cachoeiras e onde existia uma pequena tribo de índios purís, no lugar  mais tarde chamado pedras brancas. Entrou em bom entendimento com os puris e tratou de fazer a sede de sua fazenda composta, composta de todas ou quase todas as matas do vale do riacho descoberto, mais tarde dado como Ribeirão dos Brotos , hoje Ribeirão Santo Antônio.
Feita a sede, no lugar  onde hoje está a sede da propriedade do Sr. José Campello Corrêa, Mutuca, catequizando os índios e transformando-os em seus escravos e trabalhadores, tratou de fazer lavouras, construiu casas e por volta de 1846, já tendo vendido boa parte de terras da fazenda água limpa , munindo-se  de dinheiro, Antonio Mutuca, vai à Barbacena visitar sua mãe, tendo antes passado no arraial de Remédios para pagar ao se amigo comerciante, os quatros contos de Réis que lhe havia furtado, pedindo desculpas e agradecendo e esclarecendo que furtou porque se lhe houvesse pedido o amigo não lhe emprestaria, assim ele preferiu agir como agiu. Tal Fóia descrição que ele fez a sua mãe, Dona Ermelinda, das terras de que ele se havia apossado, que ela resolveu vir com ele e dele adquiriu as terras que iam do Ribeirão do Sombreiro até as proximidades da fazenda Cachoeira .  Dona Ermelinda  que ficou na fazenda da Floresta,  na casa de Mutuca, providenciou para fazer a sede de Sua propriedade mais ou menos no centro das terras. Mandou  derrubar um trecho da mata, abrangendo toda extensão do que é hoje a Praça Dona Ermelinda e Ary Parreiras.
Aberta. A mata, preparada a madeira necessária, foi iniciada a construção da casa que devia ser a sede de sua citada propriedade.  Quando já estavam os esteios fincados, todos de braúna, madeira cuja rigidez é muito conhecida, os baldrames já encaixados, vieram alguns parentes de dona Ermelinda visitá-la.
Fez ela questão de trazê-los para conhecerem a sua futura casa, localizada sobre uma elevação onde está o jardim de infância Clarinda Damasceno.  Um dos visitantes entusiasmados com o panomarama que se descortinava daquela elevação, emoldurada pela belíssima mata rica em madeiras de lei e toda sorte de animais selvagens, falou a Dona Ermelinda  que ali ela devia fazer não a casa de morada mas uma capela para Santo Antônio, ao que ela respondeu,  com alguma certa ironia e descrença, que se aqueles esteios brotassem eu farei desta casa uma igreja e darei  vinte alqueires  de terras para Santo Antônio.
Os parentes de Dona Ermelinda foram-se  e os  carapinas voltando ao trabalho depois de alguns dias de paralização, verificaram que um dos esteios estava brotando na parte chamada batata dos esteios. Verificando esse fato pelos carapinas, com espanto logo levaram logo ao conhecimento de Dona Ermelinda o acontecido.  Ela veio pessoalmente  e tendo verificado que era real o que lhe disseram, fiel a promessa feita, determinou que fosse concluída a igreja, isto é, a casa para ser transformada em igreja, o que foi feito por uma adaptação um tanto desejeitada, conforme dão testemunhos os mais antigos habitantes de Miracema.  Concluída a igreja ou capela, foi batizada com o nome com que ficou povoado que surgiu rapidamente em torno  da capela e Dona Ermelinda cumprindo sua Palavra  marcou uma área calculada então em vinte alqueires de terras, com suas divisas assinaladas pelo Ribeirão Santo Antônio, por valos até hoje existentes, por vertentes e pelo córrego que vem do Hospital de Miracema em seu leito primitivo, bem conhecido.   Mais tarde o povoado de Santo Antônio dos Brotos, já com uma população regular, contando em seu meio, médicos e farmacêuticos, inclusive  o médico poeta e tupinólogo Dr Ferreira Da Luz, este faz a tradução do nome do povoado para Miracema que quer dizer Pau Que Brota.
ai está como nasceu Miracema, de um verdadeiro milagre.

Créditos texto Antonio Carlos Moreira, retirado da revista comemorativa de 66 anos de Miracema -ano1_ edição 1 especial julho de 2002.


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